A CASABela casa de argila, pedra e cal, Onde morei e vi nascer meus filhos Que a deixaram silenciosa, emudecida, Quando partiram a conquistar seu mundo.
Lar onde o sorriso da mulher amada Encheu de intenso júbilo cada dia, Afugentando presságios e tristezas, Transformando pesares em alegrias.
Não te abandono ao te deixar, agora. Antes te amo como aos seres vivos Que do nosso destino fazem parte, Vez que conosco caminhos palmilharam.
Deixa-me rever, bem calmo, cada canto, Cada palmo do espaço desfrutado, E olhar da janela estrelas contempladas Em horas tardias de priscas madrugadas.
Um dos primeiros a ocupar teus cômodos Hoje vês, sou o último a te deixar, Quando encanecido e solitário parto Para nova existência começar.
Vozes e passos ecoam em tuas salas, Nos luzentes degraus de tua escadaria Que os risos infantis tumultuavam Do alvorecer ao término do dia.
Sigo, enquanto tu ficas silente, desejável, Materna e acolhedora como ao tempo Em que aos costumes os livros se juntavam, E reverente e hospitaleira te mostravas.
Lembro que o nosso alimento eram as letras E a poesia o buquê do vinho que bebíamos. Por isso ao partir me sinto deprimido, Convicto, porém, de que assim é a vida:
O homem tentando ordenar a vida Preso, porém, ao contingente fado, Que o atrelam aos acontecimentos Sem que a eles deseje estar ligado.
Não me iludo por ver-te desolada, Muda e silenciosa como são as casas Quando os que as habitaram vão embora Sem afinal saber por que o fazem.
Por isso hoje me sinto entristecido E em pensamentos vagos mergulhado, Como se as tuas feridas me doessem, Como se aminha melancolia te tocasse.
Escrito por Nilson Patriota às 19h21 |
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