Primeiro de Janeiro, data em que o Povo de Touros, praias vizinhas e a região do Mato Grande, festejam o seu protetor, a sua estrela guia, o bondoso e piedoso Bom Jesus dos Navegantes, festa religiosa que não só comemora o advento de nosso Salvador, mas, também, o ano que se anuncia, maior testemunho de fé católica dessas ribeiras e adjacências.
Logo mais às dezesseis horas, da matriz do Bom Jesus dos Navegantes, sairá à barcaça conduzindo a linda imagem, bela e altaneira do Salvador, como assinalam os versos do poeta tourense José Porto Filho, suspenso no madeiro para percorrer toda a cidade de Touros, em sinal de benção a toda a nossa gente, e, especialmente, aos homens do mar, nossos pescadores, para que possamos enfrentar as procelas diárias, que nos regeneram no amor em Cristo, como verbo e carne de fé na vida, puro Dom de Deus.
Nesse momento, quando da saída do nosso Cristo Redentor de sua Igreja Matriz, estarão, a sua espera, cerca de 10 ou 15 mil pessoas, que a plenos pulmões, passarão a entoar o hino do Bom Jesus composto pelo padre, intelectual e músico Antônio Antas, filho de Pedro Avelino, há muito falecido, fazendo ecoar em todos os recantos dessa bela praia, suas lindas estrofes, da qual destaco a primeira, para ilustrar essa singela crônica: "Meigo e bom já suspenso no madeiro/Ostentado as agruras do sofrer/ Bom Jesus, Deus e homem verdadeiro/que por nós veio à terra padecer".
Daí em diante, essa multidão será convertida num verdadeiro "mar de fiéis", como se a barcaça trazendo a imagem do Cristo Crucificado navegasse por sobre os seus ombros, num movimento de “ondas humanas, calmas e tranquilas”, cuja demonstração de fé cristã nos leva a pensar no fato de que devemos iniciar o ano cada vez melhores, mais bondosos, fraternos e solidários, sob pena de transformarmos nossas vidas em mares revoltos, indômitos, sem paz e fé em Deus.
Não é sem propósito que essa multidão acompanha a imagem do Cristo Crucificado em Touros, com o olhar voltado para a expressão, que dela reflete, suspensa no madeiro, ostentando as agruras do sofrer, em eloquente sinal de que o Nazareno veio ao mundo e se imolou para nos salvar do egoísmo, ódio ou rancor, em prol de uma vida fraterna e solidária, que muitos insistem em ignorá-la.
Assistir a esse espetáculo de fé Cristã nos leva à reflexão, pelo menos isso acontece comigo, sobre como vivemos, se somos justos ou não, se respeitamos a dignidade do próximo, e se somos capazes de tornar nossas vidas menos vazias e permitir, de fato, que Deus encha nossos corações de sua graça, em prol de uma vida verdadeiramente humana.
Sou devoto assumido do Bom Jesus dos Navegantes desde o distante ano de 1975, do Século findo, testemunho de fé que é renovado, a cada ano, por mim e pelo Povo Tourense.
A partir daquela quadra de vida, quando apenas contava 13 (treze) anos de idade, passei a conhecer e a viver a mística do Bom Jesus pelas mãos de minha tia Evani Rodrigues Ribeiro e do seu esposo Pedro de Andrade Ribeiro, filho de Touros, nascido na praia de Cajueiro.
De lá para cá, mesmo morando em Currais Novos, há vinte e cinco anos, nunca deixei de me postar, ainda que em espírito, diante do Bom Jesus de Touros, pois tenho plena convicção de que o nosso Salvador está em seu “trono da cruz a dominar/ A Paróquia ouve o hino que ela entoa/Na cidade, nos campos ou no mar/os teus filhos protege e abençoa”.
Com essas palavras, encerro essa crônica, em homenagem e reverência ao Bom Jesus dos Navegantes de Touros, para que, logo mais, na tarde do dia hoje, ele se revele ao seu povo, a nossa gente, verbo e carne de dignidade humana, sal da terra, sal da vida.
Feliz ANO NOVO ao Povo de Touros, sob as bênçãos do Bom Jesus!
José Maria R. Bezerra – 01/01/2014.
Só uma mente brilhante como a de Dr. José Maria R. Bezerra, para escrever uma crônica tao intensa e ao mesmo tempo leve suave, porque fala com suas sábias palavras, o verdadeiro sentimento dos cristãos seguidores do Bom Jesus. Parabéns!
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